ELVIS, KURT RUSSEL E JOHN CARPENTER

AUTOR: JORGE CARREGA

 

Elvis, Kurt Russel e John Carpenter

Conhecido pelos seus populares filmes de terror e suspense, o realizador John Carpenter, autor de clássicos como Halloween, The Fog, They Live! e Vampiros, foi também como muitos fãs do Elvis se recordarão, o realizador da primeira e até hoje melhor biografia cinematográfica do cantor, o telefilme Elvis de 1979, protagonizado por Kurt Russel.

Como é sabido, Kurt Russel teve a sua estreia cinematográfica com apenas 10 anos de idade no filme It Happened At the World’s Fair (1963) onde protagonizava duas cenas cómicas com Elvis, uma experiencia marcou que decisivamente a carreira do actor.

Aos 27 anos, precisamente a idade de Elvis quando rodou It Happened At the World’s Fair, e depois de mais de uma década a trabalhar em filmes juvenis, Kurt Russel relançou a sua carreira ao interpretar o papel de Elvis. O filme, realizado pelo jovem John Carpenter, acabado de sair do êxito de Halloween, marcou o início da carreira adulta de Russel e uma das mais interessantes parecerias cinematográficas do cinema americano. Juntos Carpenter e Russel trabalharam em cinco filmes, nomeadamente: Escape From New York (81) e a sua sequela, Escape From LA (96), The Thing (82) e Big Trouble in Little China (86), para além do já referido Elvis (79).

A importância de Jonh Carpenter na carreira de Kurt Russel foi decisiva, pois foi nos filmes de Carpenter que Russel desenvolveu a sua inconfundível “screen-persona”, desempenhando os seus heróis de acção com um sentido de humor burlesco que continuou a desenvolver em filmes exteriores ao universo de Carpenter, como Tango e Cash (89), Captain Ron (92), 3000 Miles to Graceland (2001) e Grindhouse – À Prova de Morte (2007) de Quentin Tarantino, precisamente um dos realizadores modernos mais influenciados pela obra de Carpenter.

 Para muitos apreciadores do cinema de arte, o nome de John Carpenter levanta sérias dúvidas no que respeita à “respeitabilidade intelectual” dos seus filmes, um facto que não incomoda minimamente o realizador americano que por diversas vezes declarou nunca ter gostado da maioria dos clássicos que foi obrigado a visionar enquanto estudante de cinema. Pelo contrário, os filmes de Carpenter são dirigidos ao público que procura emoções fortes e uma hora e meia de divertimento, quando vai ao cinema.

Em 2008 a cinemateca portuguesa organizou uma retrospectiva da carreira de John Carpenter, iniciativa acompanhada como é costume nestas ocasiões da publicação de um catálogo dedicado ao realizador.

Nesta interessante publicação somos brindados com uma longa entrevista com o realizador e entre os vários artigos nele incluídos, encontra-se um intitulado “Os prazeres culpados de John Carpenter”, no qual o realizador fala sobre alguns dos seus  filmes favoritos e que  marcaram decisivamente o seu gosto pelo cinema popular, influenciando a sua abordagem ao cinema.

Entre as obras citadas, encontram-se como seria de esperar alguns filmes de terror e suspense, como The Invisible Invaders (59) e The Giant Claw (57), mas também êxitos populares do cinema de aventuras fantástico Goliath and the Barbarians (60) com Steve Reeves e ainda um filme musical, nem mais nem menos que Blue Hawaii, protagonizado por Elvis em 1961, e sobre o qual Carpenter declarou: “O primeiro grande filme de Elvis no Havai, é também o melhor de todos. Ângela Lansbury é a mãe de Elvis, que quer que ele tome parte do negócio da família. Elvis quer seguir o seu próprio caminho como guia turístico. Ainda me comovo quando canta “Can’t Help Falling In Love”.

Elvis casa-se com Joan Blackman num casamento havaiano sem sentido, mas muito enfeitado. O Rei no seu melhor.”[1]

 John Carpenter, um dos realizadores mais originais do cinema americano de entre o final dos anos 70 e os meados dos anos 90 e Kurt Russel, um dos actores mais interessantes e versáteis do cinema americano dos últimos 30 anos, são dois exemplos vivos do impacto que Elvis Presley teve no cinema e na cultura popular do século XX.

 Jorge Carrega

[1] John Carpenter, Memórias de um homem bem visível, Catálogo editado pela cinemateca portuguesa - museu do cinema, 2008.